Na reveladora entrevista dada aos camaradas do ‘pasquim’ Pasquim, em 7 fevereiro de 2002, em um certo trecho Lula afirma:
Marilda - Como é que você está pretendendo brigar com Roseana, com o Garotinho, pra pegar esse eleitorado insatisfeito?
Lula - Nós vamos ter que fazer uma disputa. Eu sou um candidato que tenho uma certa dificuldade de ser vendido como produto...
Marilda - Graças a Deus, né?
Lula - Graças a Deus pra nós, que temos consciência política. Mas muitas vezes o nosso discurso, mais ideológico, não atende às expectativas do telespectador. Eu tenho dito pra todas as pessoas que trabalharam comigo, em 89, em 94, em 98 e agora disse pro Duda Mendonça: "Eu sou um ser político, quero ser vendido pelas minhas idéias, não quero ser um objeto". Qualquer um pode ser falsificado; eu não posso. Não posso e não quero. Tenho orgulho da minha origem, da minha história. Se eu tiver que ser presidente, vai ser assim. Se eu tiver que vender uma imagem que não é a minha, então não serei eu o candidato. Se quiserem alguém diferente, alguém que fale assim ou se vista assim, então não sou eu o candidato. Essa será a primeira campanha a ser feita de forma profissional.
Típico de Lula, desdiz na explicação o que afirma na introdução. E, ao final da campanha, age como o marketeiro Duda Mendonça decide, levando-o à vitória de 2002. O que importa é ganhar a eleição. Oportunismo é, de uma vez por todas, rebatizado de “pragmatismo”.
Mas Dilma, aprendiz de Lula, tem sido muito mais rápida nas readequações de discurso, rápida demais. Tendo o partido avaliado que o discurso pró-liberação do aborto seria ponto negativo, tornou-se defensora pró-vida logo em seguida. Para ser mais abrangente na cobertura do risco, apressou-se a aproveitar o dia de Nossa Senhora para aparecer como beata ao lado de um Chalita e de um Gilberto Carvalho, tentando talvez agradar à Renovação Carismática Católica e à Teologia da Libertação Marxista. Alterou o programa de TV e inseriu em sua biografia um 'sólida formação religiosa' - tão sólida que afirmou ao apresentador Ratinho que acredita em Deus utilizando o surrado clichê materialista e impessoal de 'energia ou força superior'.
No mesmo dia em que se comemora o dia das crianças, troca sua foto do perfil do Twitter para quando era petiz e convoca seus seguidores a enviarem suas fotos de criança, essas coisinhas lindas, símbolos da esperança do futuro de um Brasil que Lula nos deixou. Explode, coração!Ora, em duas semanas, indo da prepotência arrogante à semicarolice, do nariz empinado de tecnocrata à Filha de Maria wannabe, da defensora da ideologia abortista à apaixonada por crianças, tá na cara que é produto do samba do marketeiro doido. Flip-flop é o nome que dão os americanos a esse fenômeno, que lembra biruta de aeroporto, orientando-se de acordo com os ventos do momento.
Agindo assim, o marketing da campanha de Dilma não esconde o desprezo pelo que eles acreditam ser “as camadas de baixa escolaridade e baixa renda”, acreditando não passarem de seres teleguiados pela mídia, pelas pesquisas e pelo medo.
Não, não são. Aliás, pela frequente mudança de posturas e discursos, quem parece mesmo estar sendo teleguiado por esses fatores são os coordenadores da campanha petista.